Chegamos ao nosso último encontro nesse espaço e queria me despedir de você falando de futuro e te lembrando que muito do que vivemos hoje um dia foi um sonho. Ou deveria ter sido.
Na realidade dura e crua em que vive a nossa sociedade há tempos, nos acostumamos à uma espécie de desordem – estética, ética e poética. Falta amorosidade, senso crítico, transparência e coerência. Falta delicadeza e troca. É uma existência por vezes tão rígida, que vamos ficando com medo de sonhar. Mas, como dizia meu pai, quem tem medo de morrer, tem medo de viver. Então, que possamos começar um futuro de novas utopias a serem alcançadas.
O tempo e a maturidade têm me ensinado muito. Hoje mesmo, acordei, mas não abri os olhos. Só ri por dentro pensando em como o tempo tem passado rápido. Ameacei pegar o celular na cabeceira, mas lembrei que há pouco tempo aprendi a gostar do silêncio: das palavras, dos dedos, dos olhos. Quando levantei, espiei pela fresta da janela e lá está o sol. Entre nuvens: mas estava lá. Não corri para ver o horóscopo do mês. Não conferi se chegaram novas mensagens. Não conferi se o telefone tocou. Não fui à rua para ver o movimento. Aprendi a desenhar o futuro esperando menos, sem perder a esperança. Correr menos, sem deixar de caminhar. Falar menos, sem deixar de contar histórias. Falar mais baixo, mesmo rindo com os olhos.
O futuro começa todos os dias quando entendemos que é possível descobrir coisas novas, primeiro na gente. Depois, nas pessoas em volta, nas pessoas mais distantes, no mundo em que vivemos. E, como se fôssemos um mapa, um atlas, um mundo, dia a dia conhecemos um novo lugar, um riachinho, uma fruta, um bicho. Me despeço te chamando à abrir as janelas de seus sentidos, pra perceber que é preciso – mesmo quando as janelas se tornarem frestas – se lembrar de que todos os dias o sol vem. É ele o sinal de que todos os dias, recomeçamos, sonhamos, fazemos o futuro.
Artigo publicado na Revista da CNT – Confederação Nacional do Transporte
