Maria Flavia

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Eu vejo um museu de grandes novidades

Há tempos venho questionando sobre a trinca: ‘passado – presente – futuro’ e seu impacto na sociedade contemporânea. E aí, no fim de semana que passou, à convite de um grande amigo (que no passado foi meu aluno), fui ao show  dos músicos mineiros Flausino e Sideral em homenagem ao Cazuza. E, como os próprios intérpretes falaram, a turma que hoje está entre vivendo os 38 (ou mais) sabe bem o quão importante Cazuza foi para um tempo em que vivemos. E eu e meu amigo – passado e presente, cantamos juntos e vimos Cazuza vivo de novo.

O mesmo Cazuza, quando na carreira solo (pós Barão), também evocou o passado quando gravou um vinil (que ainda tenho guardado) com canções do eterno Cartola. No auge da minha adolescência, entoei alto e chorei quando entendi por que as rosas não falam.

E eu acho massa, acho lindo, acho poético quando ocorrem os encontros do passado com o presente. São preparações, na minha opinião, para futuros sempre melhores. O que tem ocorrido frequentemente, e que tem me incomodado muito, é o descaso de muitos do presente com o passado. Meu ambiente é a escola, a universidade e, especificamente, trabalho e estudo o empreendedorismo e a educação empreendedora.

Desde que comecei, muita coisa têm mudado e, me assusta um pouco a polissemia que temos vivido na área. E pouco se reflete sobre isso. E mais e mais post its são colocados em mais um modelo de “canvas” – que vão sendo substituídos em proveitos de outros, acrescidos de termos em inglês ou verbos que são somente fruto de adjetivação (MVP, pivotar, infotainment, soft skills etc) que ignoram as pessoas que escreveram a história. E mais e mais espaços vagos vão sendo preenchidos e as centenas de folhinhas coloridas se sobrepõem as discussões realmente necessárias ao processo de empatia, respeito e construção da educação ou do empreendedorismo que queremos promover.

Minha angústia vai aumentando porque vejo na nossa cidade a distância – causada pela constante intolerância – entre os que defendem a nova era da educação. O que se vê é um espaço de poder e disputa, de poder e ideologia, do desejo de se sobressair e de chegar a um pódio imaginário onde o vencedor terá conseguido transformar e propor uma nova visão de mundo e de escola. E nesse campo, os espaços de educação “tradicional” e “não tradicional”, ao invés de se iluminarem por meio daquilo que têm de mais genuíno e interessante, acabam por apagarem-se uns aos outros. No fundo enxergo um “museu de grandes novidades”. Todo mundo tentando lançar o improvável, o inovador, mas ainda presos aos velhos valores pautados na lógica do comando e do poder. E no afã de sermos exageradamente inovadores, ávidos por chancelar mais um novo termo, vamos nos esquecendo e nos perdendo de Sócrates, Maria Montessori, Paulo Freire e José Pacheco. Uma pena pra gente. Uma pena pra educação. Uma pena por não poder viver o encontro e a delicadeza de unir passado, presente e futuro.

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